quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Nem tudo se pode ver, ouvir ou dizer (por Betty Milan, escritora e psicanalista)

Descaradamente surrupiado do Blog Espaço Sinhá, Cadê "seu" Padre?
http://maluber2.wordpress.com/2011/01/10/nem-tudo-se-pode-ver-ouvir-ou-dizer-betty-milan-revista-veja/

Enquanto eu aguardava o dentista me chamar fiquei folheando uma revista Veja e deparei-me com esse texto que falou muito pra mim naquele momento.
Depois disso, sai a caça do texto pela internet e como encontrei-o na integra neste Blog e fiquei com medo de perdê-lo novamente (como perdi a revista q não era minha, rs)resolvi surrupiar o texto descaradamente.

Bom uso!


Da revista Veja, página 92, Editora Abril, edição 2.199 – ano 44 – n.º 02 – 12jan2011

Para outros textos de Betty Millan: www.veja.com/bettymilan

A psicanalista e escritora Betty Milan assina a coluna Consultório Sentimental em VEJA.com. Uma vez por mês, ela publica em Veja um artigo especialmente escrito para a revista impressa.

Um músico me escreve contando que pertence a uma grande orquesta, mas não tem prazer no trabalho por causa dos colegas. Não suporta o despotismo, a vaidade, a prepotência, a arrogância e a mania de grandeza de alguns. O convívio com “egos inflados” é demasiadamente penoso, e ele me pergunta o que fazer.

Eu, que sempre faço a apologia do ato generoso da escuta, sugiro ao músico que faça ouvidos moucos. Lembro que ele tem o privilégio de escutar os sons mais sutis e sabe ouvir o silêncio. Não precisa dar ouvidos ao que não interessa. Inclusive porque egos inflados estão em toda parte e a luta contra eles não leva a nada. Evitar a luta de prestígio é um bem que nós fazemos a nós e aos outros.

Para viver, nem tudo nós podemos ver, escutar ou dizer. Isso é representado, desde a Antiguidade, pelos três macacos da sabedoria. Cada um cobre uma parte diferente do rosto com as mãos. O primeiro cobre os olhos, o segundo, as orelhas e o terceiro, a boca. A representação é originária da China. Foi introduzida no Japão, no século VIII, por um monge budista. A máxima que ela implica é “não ver, não ouvir e não dizer nada de mau”. Foi adotada por Gandhi, que levava sempre consigo os três macaquinhos, o cego, o surdo e o mudo – Mizaru, Kikazaru e Iwazaru.

Eles ensinam a não enxergar tudo o que vemos, não escutar tudo o que ouvimos e não dizer tudo o que sabemos. Noutras palavras, ensinam a selecionar e a conter-se. Isso é decisivo para uma atitude construtiva, mas não é fácil. Somos impelidos a focalizar o que nos prejudica – impelidos por um gozo masoquista ao qual temos de nos opor continuamente. Só a consciência disso permite não sair do caminho em que a vida desabrocha.

Seleção e contenção tornam a existência mais fácil. Desque que não sejam um efeito da repressão, como na educação tradicional, e sim do desejo do sujeito – um desejo vital de se opor às forças do inconsciente que podem nos fazer mal. Isso implica a humildade de aceitar que o inconsciente existe e nós não somos donos de nós mesmos.

A ideia não é nova. Data da descoberta da psicanálise por Freud, no fim do século XIX, mas continua a ser ignorada porque é difícil nos livrarmos do ego. Sobretudo numa sociedade como a nossa, que tanto valoriza, e que não condena a vaidade, a prepotência, a arrogância. Pelo contrário, estimula-as para se perpetuar.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Servidão

"Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente" (Mt 20:28).

Eu diria que se eu vim para servir, deve ter sido para servir da palhaça para os outros.